Imagem capturada durante ensaio com o público no NEXT em 13/11/2009. Atuação de Maria da Paixão de Jesus.
Corpo-paisagem
Work in progress em dois tempos
1o momento: Performance e vivencia interativa com projeção de fotografias digitais (20 a 35 min)
2o momento: Instalação fotográfica interativa
Concepção: Monique Allain
Performance: Maria da Paixão de Jesus e Monique Allain
Câmera: Gerson Damiani e Volker Minks
2009 - 2010
Como estabelecer uma sintonia entre o sujeito e o espaço onde este se insere?
“nos não mudamos o mundo, mas podemos mudar o modo de vê-lo” (SANTOS, 2007, p.40).
Sinopse
Corpo-paisagem é um “work in progress” no qual estão envolvidas diversas práticas artísticas em dois momentos diferentes . A primeira etapa corresponde a uma performance com vivência poética interativa e coletiva. Recursos tecnológicos são empregados de modo a integrar realidade física e dimensão virtual. Uma mulher despe-se iluminada com a projeção de imagens de outro corpo sobre ela, mescla-se a este corpo enquanto espalha sobre si argila branca em uma simbólica fusão com a terra. A seguir, oferece seu corpo ao olhar do artista, recortado e mediado pela câmera fotográfica. O público é convidado a participar da constituição destas paisagens subjetivas registradas pela câmera. Alguns dias depois, na segunda etapa do trabalho, as imagens digitais capturadas na primeira, editadas e impressas sobre a parede nos formatos quadrado e retangular, compõem frases em código Morse sobre o tema. O trabalho tem o propósito de investigar maneiras de se ver, interpretar, e se relacionar com o espaço e com o outro, propondo como viés a noção de espaço como corpo (e vice e versa).
Descrição do trabalho
A performance acontece no centro de uma área de aproximadamente 10 x 10ms (mínimo 60m2) de modo a permitir a presença e circulação do publico ao redor do acontecimento. Uma cortina de tecido branco fino e semitransparente (aproximadamente 3,75 x 5m) divide o espaço. Em frente à cortina, um tecido branco de malha aberto (2,5 x 2,5m) jogado displicentemente, recobre o chão. Sobre ele uma mesa retangular de aproximadamente 0,80 x 2,00m, um banco de comprimento equivalente, uma cadeira e uma bacia de alumínio estão dispostos e recobertos com outro pedaço do tecido branco. Completando a organização do espaço, há um balde de alumínio com pasta úmida de argila medicinal branca sobre o banco e um mancebo próximo do conjunto.
A concepção do projeto corpo-paisagem iniciou-se em setembro de 2009. Dois meses depois, surgiu a oportunidade de realizar um primeiro ensaio simplificado no NEXT Café .
A ação se inicia com o espaço no escuro. Liga-se o áudio, uma composição africana que remete às origens da espécie humana e às raízes africanas da cultura brasileira. Em seguida, fotografias digitais de fragmentos do corpo do artista, manipuladas com contraste e ampliadas até adquirirem o aspecto de paisagens (série outras paisagens) são projetadas na cortina em slide show. O uso de escala ampliada com recortes nos enquadramentos foram procedimentos utilizados para descontextualizar as imagens e possibilitar a associação e interpretação mais aberta das mesmas, como paisagens oriundas da leitura de um espaço subjetivo. O material foi editado aumentando-se o contraste radicalmente e diminuindo-se a saturação da cor até atingir tons de terra, para destaca o relevo do corpo e auxiliar na desnaturalização das imagens. O propósito é trazer a noção de espaço como corpo.
Depois de alguns minutos (aprox. 3 min), uma mulher se destaca do meio do publico e se dirige vagarosamente para o centro, onde esta o banco. Seu corpo banhado pela projeção se confunde com o espaço. Lentamente ela se volta para o público, estabelece contato visual, inspira profundamente e começa a tirar o roupão que depois pendura no mancebo. Nua, aproxima-se do banco, usa-o como degrau, senta-se sobre a mesa e começa vagarosamente a espalhar a argila sobre a pele de todo o corpo cobrindo-o, como se estivesse procurando alcançar uma fusão com a terra. Sua silhueta e as sombras incorporadas na imagem projetada reúnem temporalidades e situações. Há uma fusão entre a virtualidade e realidade palpável do espaço e do acontecimento para um único tempo, presente suspenso e ampliado. Enquanto a ação se passa, as pessoas estão livres para circular em volta, inclusive atrás da cortina. Por trás da mesma, forma-se uma imagem que concentra no mesmo plano o acontecimento e a projeção oferecendo mais uma possibilidade ao olhar.
Completamente imersa dentro da situação, ao terminar de espalhar a argila, quando totalmente recoberta, apóia-se confortavelmente sobre a mesa, entrega-se, descansa e saboreia a sensação de integração com o espaço.
Neste momento entro em cena com uma câmera fotográfica. O corpo da mulher tendo simbolicamente por meio deste “ritual” assumido sua condição de espaço, começa a ser fotografado. As imagens capturadas irão constituir uma serie de paisagens.
Com uma máquina fotográfica digital, Maria da Paixão de Jesus é fotografada durante experimentação no NEXT em 13/11/2009. Imagem registrada pelo publico.
O público em seguida é convidado a participar. A maquina fotográfica é oferecida e passa de mão em mão enquanto as pessoas que manifestaram o desejo de participar, interpretam o contexto e elaboram suas próprias paisagens. O conjunto destas imagens de autoria indefinida compõem um universo de paisagens deste espaço compartilhado, impregnadas com a presença do coletivo.
Participação do público na captura de imagens para a série de fotografias outras paisagens de 2º grau durante experimentação com o público no NEXT em 13/11/2009. Imagem registrada pelo público.
Quando o público dá sinais de que o tempo foi suficiente para vivenciar o acontecimento a mulher se levanta, sempre vagarosamente, cobre-se com o roupão, dirige-se em direção ao publico, passa por ele e deixa o local.
A música para e alguns segundos depois as imagens se apagam.
O espaço permanece por instantes em silêncio e no escuro. Este é um tempo de digestão.
Encerra-se a apresentação.
O evento é filmado com duas câmeras (na frente e atrás da cortina branca).
As fotografias realizadas pela equipe e pelo público, assim como os registros da performance em vídeo serão utilizados para o desenvolvimento da segunda etapa deste trabalho a ser realizada posteriormente em local a ser definido.
Na segunda etapa, os registros da performance serão transmitidos em 2 monitores de LCD fixos lado a lado, durante o período de exposição. As imagens fotografadas editadas utilizando os mesmos procedimentos empregados para a construção da serie outras paisagens (fotografias projetadas durante a apresentação), recortadas nos formatos 10 x 10cm e 10 x 30cm irão compor uma nova série intitulada paisagens em palavras. Deste conjunto, 40 imagens impressas digitalmente e adesivadas em PVC serão fixas em uma parede do espaço expositivo compondo a cada dia, frases elaboradas sobre o tema em código Morse. O publico poderá elaborar suas próprias sentenças dispondo à sua maneira outras 40 imagens adesivadas em manta imantada sobre uma placa de zinco fixa em outra parede do local.
Código Morse internacional obtido pela internet no endereço http://www.freewebs.com/g1eio/The%20International%20Morse%20Code.jpg em 29/01/2010.
Corpo-espaço
O que é o corpo?
O que é o espaço?
O que é o tempo?
O corpo é um espaço?
Nem sempre o espaço é um corpo...
O tempo é um espaço sem corpo?
O espaço é a condição de todos os corpos?
O tempo é a condição de todos acontecimentos?
O corpo é um acontecimento?
Nem todo acontecimento é um corpo...
O que somos?
Uma projeção do mundo que se projeta em nós?
Quem somos?
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