Registros da vitrine
FICHA TÉCNICA
Instalação
Local: Vitrine da ABER - Rua Dr. Bráulio Gomes, 139 - Centro - São Paulo
Período: 03/09 a 09/10
Curadoria: Ana Roman
2016
SINOPSE
O
eixo da instalação consiste em um painel de azulejos impressos, com as imagem
que se vê ao abrir o livro MÉXICO
IMAGINÁRIO: MEMÓRIAS HERDADAS VIVIDAS E INVENTADAS nas páginas 18 e 19. A
imagem é uma composição feita com o registro fotográfico da instalação Híbrido, obra apresentada em 2014 na
exposição coletiva do 11o Festival da América do Sul, no SESC de
Corumbá. O
prato e as bolinhas concebidos para a instalação, são também expostos na
vitrine, e resultam da queima de argila misturada com cacos de porcelana e
óxidos.
Esquema
da vitrine.
Imagem
impressa em 24 azulejos 15 x 15 cm para composição de painel
Painel 1
Híbrido na parede
Painel composto de 24 azulejos impressos com imagem digital
60 x 90 cm
2016
Ao lado do
painel de azulejos, há um segundo painel de dimensão iguais ao primeiro, com as
páginas 16 e 17 do mesmo livro, ampliadas e impressas sobre papel.
Imagem que compõe o segundo painel.
Painel 2
Página impressa
Impressão digital ampliada sobre papel das páginas 16 e 17 do livro México imaginário: memórias herdadas, vividas e inventadas.
60 x 90 cm
2016
Prato
Híbrido
Prato e bolinhas resultantes da queima de argila
misturada com cacos de porcelana e óxidos
22 x 15 cm
2014
Obra concebida para exposição do 11o
Festival da América do Sul. Foi assinada com o heterônimo Maria Palomino. A
quebra posterior, ocorreu durante o transporte de volta à São Paulo.
O livro
está presente, apoiado em uma prateleira.
México imaginário: memórias herdadas, vividas e
inventadas
Livro
Livro de
artista
22 x 15 cm
36 páginas
2016
Impressão e
acabamento: Gráfica Águia
Completando
a instalação, um vídeo de Regina Jehá apresenta depoimentos da artista sobre as
motivações que alimentaram o projeto México Imaginário.
Mini DVD player com vídeo.
Vídeo
Depoimentos em vídeo de Monique Allain sobre as motivações que alimentaram o projeto MÉXICO IMAGINÁRIO.
Direção e câmera: Regina Jehá
16 min
2016
TEXTO CURATORIAL DE ANA ROMAN
Comer a si e ao outro
Distinguimos alimento e comida a partir de
práticas sociais que circundam a nutrição do ser humano: o alimento se
relaciona com o que ingerimos para manutenção da vida, e, portanto, tem caráter
mais universal, já o conceito de “comida” implica em hábitos alimentares e na
ritualização das refeições. Lévi-Strauss, em O Cru e o Cozido, afirma que as alterações no preparo dos alimentos
implicam historicamente em importantes mudanças culturais, pois o cozimento se
relaciona a um maior grau de organização das populações e ao nível de
comensalidade entre os indivíduos. Assim, podemos dizer que as identidades de
um grupo, uma classe e mesmo de uma pessoa, determinam e são determinadas pelo
ato de comer e pelos objetos triviais utilizados nessa ação. Pratos
configuraram, nesse sentido, espaços a partir dos quais construímos nossa
história e cultura.
Em México
Imaginário, Monique Allain estampa azulejos com a imagem de um prato
concebido para a instalação Híbrido (2014).
O objeto retratado na azulejaria – e seu correspondente escultórico presente na
instalação – é composto por fragmentos de cerâmica e porcelana, que conformam
uma superfície utilizada como suporte para o alimento no ato de comer.
A cerâmica remete às práticas nativas
ameríndias de feitura de utensílios e ao universo do artesanato - rebaixado à
categoria de arte menor, e visto como uma prática feminina de pouco interesse -
enquanto a porcelana simboliza a metrópole ocidental colonizadora e
civilizada. Ao se encontrarem, os dois
materiais produzem uma superfície heterogênea que carrega memórias e rastros do
processo não só de feitura da peça, mas também da colonização na América: a
violência do processo colonial e a posição ocupada por nosso continente no
sistema-mundo se inscrevem neste trabalho e revestem as paredes da instalação.
O prato é aquilo que contém, mas também
aquilo que é comida.
As imagens evocadas pelo trabalho de
Monique questionam o que Hélio Oiticica denominou de “convi-conivência” – o
artista utilizava o termo para se referir à forma como nós, brasileiros,
encaramos o passado colonial e a sociedade desigual dele advinda. Em México Imaginário, fricções e
justaposições que compõe a história e o imaginário mexicano são expostas na
pele construtiva do espaço e na colagem que conforma o prato.
O hibridismo cultural latino-americano
ressoa ainda no livro que compõe a instalação. O livro-dentro-de-um-livro; e a
“ busca por um hospedeiro”, nas palavras da artista, são metáforas para as
consequências não somente da colonização ameríndia, mas das trocas culturais
contemporâneas entre as populações. A identidade torna-se uma impossibilidade
em um contexto em que o eu e o outro se diferenciam e se assimilam
constantemente.
Os fragmentos de México Imaginário são reveladores das justaposições que nos
estruturam enquanto sujeitos. A construção de nossos imaginários e discursos
resulta em superfícies complexas e heterogêneas, como aquelas expostas no
trabalho de Monique; nem cruas, nem cozidas e nem assadas; nem cerâmica e nem
porcelana; mas como uma colagem de todas elas.
SOBRE
A INSTALAÇÃO - PALAVRAS DA ARTISTA
A obra exibida é fruto da integração de
dois pensamentos: Por um lado, alinhada ao pensamento de Borges, apoia-se na
compreensão de que o livro é uma extensão da memória do homem. Por outro, baseia-se
na necessidade do sujeito transformar o lugar onde vive, de modo a torna-lo uma
extensão de si mesmo. Assim ele se localiza e se reconhece (Milton Santos). Os
revestimentos nas paredes, carregam sua história, suas recordações. São sua
pele, ou o avesso da “pele” desse lugar que ele cria e marca com sua presença.
A instalação MÉXICO IMAGINÁRIO: UM LIVRO ABERTO é uma tentativa de habitar o
espaço da vitrine, expandindo as memórias contidas no livro MÉXICO IMAGINÁRIO: MEMÓRIAS HERDADAS,
VIVIDAS E INVENTADAS para além de suas páginas, impregnando as paredes do
espaço com seus medos, crenças e afetos. Os azulejos, assim como os pixels da
imagem digital, carregam cada qual uma identidade própria, e simultaneamente,
juntos, compõem uma unidade que só é possível através do coletivo.
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